Este ano celebram-se 50 anos do fim da ditadura em Portugal e o Festival de Outono aproveita a efeméride para resgatar um espetáculo para todos os públicos, que evoca, através do teatro de marionetas, aquele período sombrio, recriando a atmosfera de terror silencioso que imperou durante meio século. A celebração foge à corrente da infinidade de informações e reportagens que têm vindo a ser publicadas e transmitidas, nas quais o foco tem sido precisamente o fim desse período, com um olhar voltado para o futuro, mas sem olhar para o passado que deixava para trás — como se se quisesse apagar da memória esse tempo ominoso e fixar conscientemente as imagens de júbilo e esperança que se abriram em abril de 1974.
Dura Dita Dura é precisamente o reverso dessa celebração, um olhar para trás que se preserva nos livros de história e na memória daqueles que viveram esses anos e ainda podem recordar. A companhia de teatro de marionetas e objetos Teatro de Ferro foi fundada em 1999 por Carla Veloso e Igor Gandra, e o seu nome (Teatro de Ferro) implica uma posição moral (de resistência), mas também uma adaptação constante.
Em 2009, 35 anos após o fim da ditadura, estrearam Dura Dita Dura. Apresentada como um conto (“Era uma vez um menino que vivia num pequeno país banhado por um vasto oceano. Dizia-se que, desse país, homens de grande estatura —e homens de todos os tamanhos— tinham partido em busca de outros países e outros povos…”), a peça conta a história de Baltazar, um menino que não fala, mas ouve. Vive numa pequena aldeia, perdido, mas vigiado e autovigiado: os próprios vizinhos espionam-se mutuamente, submetendo-se a um rigoroso escrutínio que sufoca as suas vidas.
Em palco, uma multidão de pequenas figuras humanas evolui dentro de um “jardim incolor”, metáfora cénica de um passado sombrio. Combinando marionetas com texto e música, esta recriação fabulada do passado português é apresentada numa linguagem acessível, para todas as idades. Como afirma o marionetista Igor Gandra, Dura Dita Dura é um espetáculo “para ver, ouvir, pensar e conversar”.
Idioma: português com legendas em espanhol.
Dias 29 e 30 de novembro, nos Teatros del Canal. Início às 19h.