Galería Elba Benítez
Fernanda Fragateiro, L.B. (floor plan), 2023 | © António Jorge Silva
Ó universo, novelo emaranhado,
Que paciência de dedos de quem pensa
Em outra coisa te põe separado?
De acordo com a teoria contemporânea conhecida como “Thing Theory” (Teoria das Coisas), quando um objeto funcional perde a sua função, seja por obsolescência, quebra ou ruína, deixa de ser um objeto per se e torna-se uma coisa. Embora a sua forma, a sua estrutura ou a disposição material específica das suas moléculas de carbono possam não ter mudado, o modo como nos relacionamos com ele muda. Nesta formulação, um objeto é uma coisa que foi dotada de uma função ligada ao ser humano; desprovida dessa função, é a essência da própria coisa que se mostra.
A ideia de “objectos que se reafirmam como coisas” ajuda-nos a abordar as obras apresentadas por Fernanda Fragateiro na exposição “Escola Clandestina”. Para Fernanda Fragateiro, os vestígios de memória histórica contidos nos escombros sublinham a rutura, muitas vezes violenta, entre as ideologias do passado e as realidades do presente. Recuperados e reutilizados em obras escultóricas autónomas (juntamente com outros elementos de composição, alguns encontrados e outros fabricados de novo), os escombros, despojados da sua função, “afirmam-se” de novas formas, expressando as suas qualidades formais e materiais, bem como as questões sociais, políticas e económicas que encapsulam.